XXXII.
Há nos poetas uma aura de ralo?
XXXIII. (lembrança)
Um sujeito mancava de madeira.
Seu manco era oblíquo.
Sua boca atingia o canto.
Para avançar no poente, ele tinha que atravessar o rio.
O rio dobrava uma perna para ele passar; mas ele não dobrava a sua perna para passar o rio.
De forma que nós, do barranco, ficávamos, de um modo ascoso, esperando.
Era preciso amarrar uma corda na cintura do homem e depois puxar.
O homem atravessava o rio como um peixe fisgado pelo meio.
Poucos entendiam quase nada; mas eu entendia um pouco menos.
(É assim. Restolho, de primeiro, não passava de restos de uma erva seca; depois o restolho se tornaria a imagem de um pobre homem à beira de um ralo.)
Esse manco era um pobre homem à beira de um ralo.
(retirado de "CONCERTO A CÉU ABERTO para solos de ave", Manoel de Barros.)
terça-feira, junho 12, 2007
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3 comentários:
Lembrei de vc hoje. O Welington deu como epígrafe de uma redação um Manoel de Barros (talvez uma parte/ um trecho de um). Era algo assim:
"Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras fatigadas de informar."
É do Apanhador de Desperdícios.
Beijoca.
Juli =)
Tenho outro dele aqui. Peça-me.
Olha que eu fico com ele pra mim, Mar! hahaha..
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